Continuo os passes. Joséphine tem agora cerca de setenta
anos. Em seguida, pouco a pouco, mostra-me o espectáculo de sua morte,
revirando-se sobre a cadeira.
Continuação dos passes; ela toma a posição do feto no ventre
de sua mãe e, depois de algum tempo, pode responder às minhas perguntas; tem
dois anos e chama-se Lili. Um pouco mais tarde tem três anos, chama-se Alice, o
seu pai Claude e a sua mãe Françoise, porém não sabe nem o seu sobrenome, nem o
nome do lugar onde mora. É muito feliz e mora numa linda casinha. Ela não está
inteiramente no seu corpo e vê espíritos à sua volta: alguns bons, outros maus;
quando estes últimos agem sobre ela, chora e faz manhas.
Continuação dos passes. Ela entra numa fase de letargia durante
a qual se revira sobre a cadeira e aperta o pescoço com a mão. A sua respiração
está rouca e difícil. Quando sai dessa fase e pode falar, conta que morreu de
uma angina; tinha quatro anos. Desprendeu-se rapidamente do seu corpo,
continuou a ver os seus pais e a sua casa, mas ainda não compreende bem onde se
encontra.
Aprofundando o sono, ela se desprende mais completamente sem
fase de letargia, vaga no espaço, está feliz, já não vê a Terra, mas vê
espíritos luminosos; estes não lhe falam e ela não reconhece entre eles nem
parentes nem amigos. Retoma pouco a pouco a lembrança das suas existências
passadas, mas não se dá conta da razão de sua sucessão e de sua diversidade.
Desperta através de passes transversais, passando
rapidamente por todas as fases já assinaladas. Enfim, ei-la novamente
Joséphine, com a idade de vinte e cinco anos. Pergunto-lhe brincando se deseja
que eu a rejuvenesça mais. Responde-me que sim e a levo aos quinze anos. A
sua sensibilidade está ainda exteriorizada, como ocorre durante todo o
tempo em que dorme magneticamente. Sente tudo o que sinto, mesmo
quando mordo a minha língua, o que ela não pode ver.
Eu estava bastante embaraçado, querendo reconduzi-la ao seu
estado normal e, desejava terminar a sessão, que já durava mais de
duas horas. Mostrei-lhe a minha ansiedade. Ela tomou-me então as mãos e
disse-me que ia fazer o necessário. Com efeito, após alguns minutos, sem
passes de nenhuma espécie, ela abria os olhos, tinha retomado a
sensibilidade normal e perdeu, seguindo a regra, toda a lembrança do
que se tinha passado.
Sexta sessão
Adormeço Joséphine segurando-lhe as mãos e pergunto-lhe
o que é preciso fazer para que ela vá ao passado ou ao futuro. Responde-me
que é suficiente desprender o seu corpo fluídico e que, em seguida, ela
irá para onde eu quiser. Entretanto os passes transversais tendem a
conduzi-la ao futuro.
Continuo a aprofundar o seu sono simplesmente segurando-lhe
as mãos, projectando fluido por minha vontade e dizendo-lhe para ver o que ela
se tornará.
Passa pela fase do nascimento. Quando a interrogo, tem
quarenta anos; conta-me que a sua mãe faleceu há quinze anos.
Continuo a magnetização. Ela morre. A sua sensibilidade já
não é então exteriorizada à sua volta como anteriormente. Encontro-a aturdida.
Não sofre e encontra-se numa semi-obscuridade. Recorda-se vagamente das
suas vidas precedentes; a recordação é avivada pela pressão exercida sobre o
meio da fronte. Ela tem o sentimento de que a sedução da qual foi vítima é a
punição do que fez na existência de Jean-Claude. Crê que se o Sr. de Rochas a tivesse advertido do que devia
acontecer, nada teria mudado na sua existência.
Reencarna como menina, chama-se Élise e, morre aos três
anos, de uma angina. Nesse momento leva a mão ao pescoço e parece sofrer muito.
Morre; a sensibilidade que tinha voltado em torno do seu corpo desaparece
novamente.
Morta, ela pensa na sua mãe e quer muito revê-la. Não sofre
e encontra-se numa atmosfera bastante luminosa.
Reencarna como menina, Marie, cujo pai, Edmond Baudin, é
comerciante de sapatos em Saint-Germain-du-Mont-d’Or. A sua mãe chama-se
Rosalie. Interrogo-a com dois, seis e doze anos; com esta idade pergunto-lhe em
que ano nos encontramos, mas ela não sabe responder-me e encontra pretextos:
não tem calendário, o seu pai também não, etc. Com dezasseis anos responde-me
que estamos em 1970 e escreve o seu nome. (i) É uma
sexta-feira, mas ela não sabe de que mês. Estamos na República. (ii)
Trago-a de volta por sugestão, ainda segurando-lhe as mãos,
mas esforçando-me para retirar o fluido. Ela passa pelas mesmas fases, na mesma
ordem, mas em sentido inverso: erraticidade com insensibilidade
periférica, morte com os sintomas da angina, erraticidade, nascimento com
contorções apropriadas.
Sétima sessão
Nesta sessão propus-me descobrir o que adviria se, após a
haver estimulado através de passes a caminhada para trás ou para adiante com
Joséphine, eu deixasse a natureza dela agir sozinha.
Adormeço-a através de passes longitudinais e, quando a
interrogo, ela tem quinze anos. Pergunto-lhe se me vê; responde-me
que não; no entanto, ouve a minha voz e pensa que é o diabo quem fala; porém
não sente medo. Ela não conhece o Sr. de Rochas.
Abandono-a então a si mesma. São 1:30.
1:40 – Interrogo-a novamente. Ela permanece bastante tempo
sem me responder. Quando me responde tem dez anos, não me vê, mas
ouve-me. Encontra-se com jovens companheiros que não me ouvem e que lhe dizem
que ela é louca. A sua sensibilidade é exteriorizada.
2:10 – Ela tem cinco anos.
2:25 – Ela não sabe a sua idade. Mama em sua mãe
e mexe os lábios como que sugando. Chupa o meu dedo quando o apresento à sua
boca.
2:35 – Agita-se e parece sofrer. Ela é Jean-Claude
morto. Desperto-a então através de passes transversais e abandono-a a si
mesma quando atinge a idade de dois anos, na sua vida actual.
2:50 – Ela continuou sozinha o movimento dado ao tempo. Tem
agora quatro anos.
Levou quinze minutos para envelhecer dois anos. Se
continuasse da mesma forma ser-lhe-iam necessários para envelhecer quatorze
anos (de quatro a dezoito anos) 1 hora e 45 minutos. Ela despertaria,
portanto, naturalmente às 4:30.
3:10 – Tem nove anos. Ouve-me e não me vê. Supõe
que a minha voz é a do anjo da guarda.
De 2:50 às 3:10 – Ela envelheceu cinco anos em vinte
minutos. A rapidez do despertar acelera-se.
3:25 – Ela tem doze anos.
3:40 – Tem quatorze anos.
Construindo a curva correspondente a esses dados, vê-se que
ela chegará à sua idade actual (entre dezoito e dezanove anos) em torno
de 4:00.
4:08 – Despertar espontâneo.
Oitava e última sessão
Joséphine, não tendo podido obter a vaga que desejava nas
Galerias Modernas, decidiu juntar-se de novo à sua mãe em Manziat. Adormeço-a
uma última vez antes da sua partida, a fim de tentar pô-la em guarda contra a
sedução que previu.
Impulsiono-a em direcção ao futuro. Ela não me fala mais da
sua vaga numa loja de Grenoble, porém o restante das suas previsões é
exactamente conforme ao que me havia dito anteriormente. Passa pelas mesmas
dores no momento do parto, a mesma vergonha, os mesmos desgostos quando dá à
luz o seu filho sem que o pai tenha querido reconhecê-lo.
No momento em que foi despertada, relembrei-lhe todos esses
acontecimentos, todas essas emoções, através da pressão no meio da fronte.
Fiz-lhe observar que ela não havia sido aceite como vendedora nas Galerias
Modernas, como havia predito e, que, consequentemente, tudo o que ela
anunciava, adormecida, podia ser apenas um sonho; entretanto, o que poderia
tornar-se realidade seriam as consequências da sua falta se ela a cometesse.
Sugeri-lhe recordar-se de todos os tormentos que tinha experimentado
durante o seu sono quando fosse tentada a abandonar-se.
No dia seguinte, tendo havido ocasião de retornar a este
assunto, ela me diz sorrindo que um bem advertido vale por dois.
Desde a sua partida para a província de Ain não mais obtive
notícias suas.
/…
(i) Esse nome é escrito com a mesma letra que a sua
normal. (A.R.)
(ii) Nota de Hermínio
C. Miranda – Resolvi testar a informação. Em 15 de maio de 1972,
enderecei uma carta a M. Edmond Baudin, marchand de chaussures,
Saint-Germain-du-Mont-d’Or, Puy-de-Dôme, França. Explicava ao hipotético
destinatário – em francês que o amigo e confrade Newton Boechat revisou para
mim – das razões que me levavam a escrever-lhe. Segundo pesquisas feitas em
1904, pelo seu compatriota coronel e engenheiro Albert de Rochas, ele, Baudin, e a sua esposa, Rosalie,
deveriam ter uma filha, por nome Marie, já com cerca de dezoito anos de idade
em 1972. Como estávamos interessados em confirmar ou negar a previsão,
contávamos com a sua amável cooperação. O correio francês foi maravilhoso.
Tentou todos os endereços possíveis. Vejo, pelos carimbos – a carta foi-me
devolvida em 22 de junho de 1972 – que ela esteve a 20 de maio, em St.
Germain-au-Mont-d’Or, no Rhône (nosso St. Germain era du-Mont-d’Or, e
não au); no dia 23, em St. Germain-Lembron, no Puy de Dôme, e a 24, em St.
Germain-l’Herm, também no Puy-de-Dôme. Em seguida, há uma nota Revoir 1er Adresse (tornar
a ver o primeiro endereço). Depois disso, Retour a
l’envoyeur (Devolução ao remetente). Não há, pois, um lugar por nome
Saint-Germain-du-Mont-d’Or na França moderna. Depreende-se que não há,
portanto, Edmond, Rosalie e Marie Baudin e, obviamente, Joséphine falhou na sua
profecia a longo termo. Ou então o coronel enganou-se nas suas anotações, pois
em 1904 não havia gravadores. Ou a família Baudin estaria vivendo alhures.
Albert de Rochas, As Vidas Sucessivas, Segunda
Parte Experiências magnéticas, Capítulo II – Regressão da
memória e previsão / Caso nº 2 – Joséphine, 1904 (3 de 3)
11º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: A aurora dos transatlan,
pintura em acrílico de Costa
Brites)
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