quinta-feira, 4 de maio de 2023

as vidas sucessivas | os elementos ~


Experiências magnéticas – Regressão da memória e previsão  Caso nº 2, Joséphine 
(III) 

Continuo os passes. Joséphine tem agora cerca de setenta anos. Em seguida, pouco a pouco, mostra-me o espectáculo de sua morte, revirando-se sobre a cadeira. 

Continuação dos passes; ela toma a posição do feto no ventre de sua mãe e, depois de algum tempo, pode responder às minhas perguntas; tem dois anos e chama-se Lili. Um pouco mais tarde tem três anos, chama-se Alice, o seu pai Claude e a sua mãe Françoise, porém não sabe nem o seu sobrenome, nem o nome do lugar onde mora. É muito feliz e mora numa linda casinha. Ela não está inteiramente no seu corpo e vê espíritos à sua volta: alguns bons, outros maus; quando estes últimos agem sobre ela, chora e faz manhas. 

Continuação dos passes. Ela entra numa fase de letargia durante a qual se revira sobre a cadeira e aperta o pescoço com a mão. A sua respiração está rouca e difícil. Quando sai dessa fase e pode falar, conta que morreu de uma angina; tinha quatro anos. Desprendeu-se rapidamente do seu corpo, continuou a ver os seus pais e a sua casa, mas ainda não compreende bem onde se encontra. 

Aprofundando o sono, ela se desprende mais completamente sem fase de letargia, vaga no espaço, está feliz, já não vê a Terra, mas vê espíritos luminosos; estes não lhe falam e ela não reconhece entre eles nem parentes nem amigos. Retoma pouco a pouco a lembrança das suas existências passadas, mas não se dá conta da razão de sua sucessão e de sua diversidade. 

Desperta através de passes transversais, passando rapidamente por todas as fases já assinaladas. Enfim, ei-la novamente Joséphine, com a idade de vinte e cinco anos. Pergunto-lhe brincando se deseja que eu a rejuvenesça mais. Responde-me que sim e a levo aos quinze anos. A sua sensibilidade está ainda exteriorizada, como ocorre durante todo o tempo em que dorme magneticamente. Sente tudo o que sinto, mesmo quando mordo a minha língua, o que ela não pode ver. 

Eu estava bastante embaraçado, querendo reconduzi-la ao seu estado normal e, desejava terminar a sessão, que já durava mais de duas horas. Mostrei-lhe a minha ansiedade. Ela tomou-me então as mãos e disse-me que ia fazer o necessário. Com efeito, após alguns minutos, sem passes de nenhuma espécie, ela abria os olhos, tinha retomado a sensibilidade normal e perdeu, seguindo a regra, toda a lembrança do que se tinha passado

Sexta sessão 

Adormeço Joséphine segurando-lhe as mãos e pergunto-lhe o que é preciso fazer para que ela vá ao passado ou ao futuroResponde-me que é suficiente desprender o seu corpo fluídico e que, em seguida, ela irá para onde eu quiser. Entretanto os passes transversais tendem a conduzi-la ao futuro. 

Continuo a aprofundar o seu sono simplesmente segurando-lhe as mãos, projectando fluido por minha vontade e dizendo-lhe para ver o que ela se tornará. 

Passa pela fase do nascimento. Quando a interrogo, tem quarenta anos; conta-me que a sua mãe faleceu há quinze anos. 

Continuo a magnetização. Ela morre. A sua sensibilidade já não é então exteriorizada à sua volta como anteriormente. Encontro-a aturdida. Não sofre e encontra-se numa semi-obscuridade. Recorda-se vagamente das suas vidas precedentes; a recordação é avivada pela pressão exercida sobre o meio da fronte. Ela tem o sentimento de que a sedução da qual foi vítima é a punição do que fez na existência de Jean-Claude. Crê que se o Sr. de Rochas a tivesse advertido do que devia acontecer, nada teria mudado na sua existência. 

Reencarna como menina, chama-se Élise e, morre aos três anos, de uma angina. Nesse momento leva a mão ao pescoço e parece sofrer muito. Morre; a sensibilidade que tinha voltado em torno do seu corpo desaparece novamente. 

Morta, ela pensa na sua mãe e quer muito revê-la. Não sofre e encontra-se numa atmosfera bastante luminosa. 

Reencarna como menina, Marie, cujo pai, Edmond Baudin, é comerciante de sapatos em Saint-Germain-du-Mont-d’Or. A sua mãe chama-se Rosalie. Interrogo-a com dois, seis e doze anos; com esta idade pergunto-lhe em que ano nos encontramos, mas ela não sabe responder-me e encontra pretextos: não tem calendário, o seu pai também não, etc. Com dezasseis anos responde-me que estamos em 1970 e escreve o seu nome. (i) É uma sexta-feira, mas ela não sabe de que mês. Estamos na República. (ii) 

Trago-a de volta por sugestão, ainda segurando-lhe as mãos, mas esforçando-me para retirar o fluido. Ela passa pelas mesmas fases, na mesma ordem, mas em sentido inverso: erraticidade com insensibilidade periférica, morte com os sintomas da angina, erraticidade, nascimento com contorções apropriadas. 

Sétima sessão 

Nesta sessão propus-me descobrir o que adviria se, após a haver estimulado através de passes a caminhada para trás ou para adiante com Joséphine, eu deixasse a natureza dela agir sozinha

Adormeço-a através de passes longitudinais e, quando a interrogo, ela tem quinze anos. Pergunto-lhe se me vê; responde-me que não; no entanto, ouve a minha voz e pensa que é o diabo quem fala; porém não sente medo. Ela não conhece o Sr. de Rochas. 

Abandono-a então a si mesma. São 1:30. 

1:40 – Interrogo-a novamente. Ela permanece bastante tempo sem me responder. Quando me responde tem dez anos, não me vê, mas ouve-me. Encontra-se com jovens companheiros que não me ouvem e que lhe dizem que ela é louca. A sua sensibilidade é exteriorizada. 

2:10 – Ela tem cinco anos

2:25 – Ela não sabe a sua idade. Mama em sua mãe e mexe os lábios como que sugando. Chupa o meu dedo quando o apresento à sua boca. 

2:35 – Agita-se e parece sofrer. Ela é Jean-Claude morto. Desperto-a então através de passes transversais e abandono-a a si mesma quando atinge a idade de dois anos, na sua vida actual. 

2:50 – Ela continuou sozinha o movimento dado ao tempo. Tem agora quatro anos

Levou quinze minutos para envelhecer dois anos. Se continuasse da mesma forma ser-lhe-iam necessários para envelhecer quatorze anos (de quatro a dezoito anos) 1 hora e 45 minutos. Ela despertaria, portanto, naturalmente às 4:30

3:10 – Tem nove anos. Ouve-me e não me vê. Supõe que a minha voz é a do anjo da guarda. 

De 2:50 às 3:10 – Ela envelheceu cinco anos em vinte minutos. A rapidez do despertar acelera-se. 

3:25 – Ela tem doze anos

3:40 – Tem quatorze anos

Construindo a curva correspondente a esses dados, vê-se que ela chegará à sua idade actual (entre dezoito e dezanove anos) em torno de 4:00

4:08 – Despertar espontâneo. 

Oitava e última sessão 

Joséphine, não tendo podido obter a vaga que desejava nas Galerias Modernas, decidiu juntar-se de novo à sua mãe em Manziat. Adormeço-a uma última vez antes da sua partida, a fim de tentar pô-la em guarda contra a sedução que previu. 

Impulsiono-a em direcção ao futuro. Ela não me fala mais da sua vaga numa loja de Grenoble, porém o restante das suas previsões é exactamente conforme ao que me havia dito anteriormente. Passa pelas mesmas dores no momento do parto, a mesma vergonha, os mesmos desgostos quando dá à luz o seu filho sem que o pai tenha querido reconhecê-lo. 

No momento em que foi despertada, relembrei-lhe todos esses acontecimentos, todas essas emoções, através da pressão no meio da fronte. Fiz-lhe observar que ela não havia sido aceite como vendedora nas Galerias Modernas, como havia predito e, que, consequentemente, tudo o que ela anunciava, adormecida, podia ser apenas um sonho; entretanto, o que poderia tornar-se realidade seriam as consequências da sua falta se ela a cometesse. 

Sugeri-lhe recordar-se de todos os tormentos que tinha experimentado durante o seu sono quando fosse tentada a abandonar-se. 

No dia seguinte, tendo havido ocasião de retornar a este assunto, ela me diz sorrindo que um bem advertido vale por dois. 

Desde a sua partida para a província de Ain não mais obtive notícias suas. 

/… 
(i) Esse nome é escrito com a mesma letra que a sua normal. (A.R.) 
(ii) Nota de Hermínio C. Miranda – Resolvi testar a informação. Em 15 de maio de 1972, enderecei uma carta a M. Edmond Baudin, marchand de chaussures, Saint-Germain-du-Mont-d’Or, Puy-de-Dôme, França. Explicava ao hipotético destinatário – em francês que o amigo e confrade Newton Boechat revisou para mim – das razões que me levavam a escrever-lhe. Segundo pesquisas feitas em 1904, pelo seu compatriota coronel e engenheiro Albert de Rochas, ele, Baudin, e a sua esposa, Rosalie, deveriam ter uma filha, por nome Marie, já com cerca de dezoito anos de idade em 1972. Como estávamos interessados em confirmar ou negar a previsão, contávamos com a sua amável cooperação. O correio francês foi maravilhoso. Tentou todos os endereços possíveis. Vejo, pelos carimbos – a carta foi-me devolvida em 22 de junho de 1972 – que ela esteve a 20 de maio, em St. Germain-au-Mont-d’Or, no Rhône (nosso St. Germain era du-Mont-d’Or, e não au); no dia 23, em St. Germain-Lembron, no Puy de Dôme, e a 24, em St. Germain-l’Herm, também no Puy-de-Dôme. Em seguida, há uma nota Revoir 1er Adresse (tornar a ver o primeiro endereço). Depois disso, Retour a l’envoyeur (Devolução ao remetente). Não há, pois, um lugar por nome Saint-Germain-du-Mont-d’Or na França moderna. Depreende-se que não há, portanto, Edmond, Rosalie e Marie Baudin e, obviamente, Joséphine falhou na sua profecia a longo termo. Ou então o coronel enganou-se nas suas anotações, pois em 1904 não havia gravadores. Ou a família Baudin estaria vivendo alhures. 


Albert de RochasAs Vidas Sucessivas, Segunda Parte Experiências magnéticas, Capítulo II – Regressão da memória e previsão / Caso nº 2 – Joséphine, 1904 (3 de 3) 11º fragmento da obra. 
(imagem de contextualização: A aurora dos transatlan, pintura em acrílico de Costa Brites)

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