Essas fugas pela tangente representam o método mais
frequente de combate ao Espiritismo, inclusive por parte dos materialistas
dialécticos. Para os observadores serenos e sensatos, bastaria essa insistência
na deturpação dos factos e na distorção do raciocínio, para comprovar a
seriedade e a importância desses mesmos factos. Aliás, ainda com Engels, encontraremos o
argumento mais apropriado: “A única questão consiste em saber se o pensamento
está ou não certo, e o desprezo pela teoria é, evidentemente,
a maneira mais segura de se pensar de maneira naturalista, e, consequentemente,
de modo errado.”
Engels não ficaria mal nas fileiras espíritas. De facto, ele
via bem estes problemas. O desprezo pela teoria espírita, única que pode explicar
os fenómenos, tem levado esses homens a trair a dialéctica a todo
momento, entrando a fundo e às cegas pela Sofistica. A punição da
dialéctica, porém, não se faz tardar. Os que pensam de maneira naturalista,
voltando as costas à teoria, terminam de encontro à parede, com a espada do
ridículo no peito. Porque a “maneira naturalista de pensar”, a que Engels se
refere, é a do pensamento a priori, instintivo, que não provém da
razão orientada pelo processo da civilização, mas da herança comum e obscura do
passado biológico da espécie. Age por meio de impulsos mecânicos, é um
automatismo inconsciente. Dir-se-ia, diante das suas manifestações, que o homem
tem a vocação da fuga. Como a lebre, colhida de surpresa à beira da estrada,
precipita-se no mato, assim o homem, colhido na sua posição materialista pela
surpresa dos factos supranormais, precipita-se no matagal das lembranças
ancestrais. Improvisa teorias e fabrica rótulos com a desenvoltura
inconsequente da avestruz ao enterrar a cabeça na areia. Comete, com
uma confiança absurda na impunidade, o crime da desfiguração da verdade, ou
passa apenas a negar, indiferente a todas as provas e argumentos, como a
criança teimosa que não quer ver a loiça partida. É o outro lado da
crendice, o reverso do fanatismo religioso.
Por isso, o médico Sérgio Valle nos lembra,
no livro Silva Mello e os Seus Mistérios, recentemente publicado:
“Enquanto não se realizar o fiat da ciência (que se mantém,
teimosamente, orgulhosa e cega), para iluminar os factos que possuímos, não é
justo que uma criatura sensata despreze o que se encontra detido, seguramente
detido nas suas mãos, por mínimo que seja, pelo que voeja no espaço do
fanatismo religioso ou do fanatismo científico”.
/…
José Herculano Pires, Espiritismo Dialéctico, Mais
vale um pássaro na mão, 9º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Vi o caçador levantar o arco-íris,
pintura em acrílico de Costa
Brites)
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