III
As Lições da Guerra (III)
(Março de 1915)
Tudo, na ordem espiritual, se resume em duas palavras:
reparação e elevação!
As calamidades são o cortejo inevitável das humanidades atrasadas e a guerra é
a pior de todas. Sem elas o homem pouco desenvolvido perderia o seu tempo com
as inutilidades da jornada ou se entregaria ao bem-estar e à preguiça.
É preciso o guante da
necessidade e a noção do perigo para obrigá-lo a movimentar as suas forças
adormecidas, desenvolver-lhe a inteligência e apurar-lhe a razão.
Tudo o que é destinado à vida e ao crescimento se prepara na
dor. É necessário padecer para dar à luz, eis a colaboração da
mulher. Cumpre padecer para criar, eis a participação do génio.
Nos momentos supremos de sua história é que as qualidades
varonis de uma raça se apresentam com maior brilho. Se a guerra desaparecesse,
com ela desapareceriam muitos males e muitos horrores; mas não é a guerra também
geradora do heroísmo, do espírito de sacrifício, do desprezo pelo sofrimento e
pela morte? São estas coisas que fazem a grandeza do homem, as que
o colocam acima do irracional.
O homem, espírito imortal, é um centro de vida e de
actividade que, de todas as vicissitudes, todas as provações, mesmo as mais
cruéis, deve conseguir outros processos pelos quais se expandam cada vez mais
as energias existentes no nosso íntimo.
As grandes emoções nos fazem esquecer as preocupações
corriqueiras (muitas vezes frívolas) da vida, abrindo em nós uma passagem para
as influências do Espaço.
No entrechoque dos acontecimentos, a bruma formada pelos
nossos anseios, pensamentos e inquietações de cada dia se esvai e a grande lei,
o supremo objectivo da existência se revela, por um momento, aos nossos olhos.
Nos mundos mais adiantados, nas humanidades superiores à
nossa, os flagelos já não têm razão de ser, não existindo a guerra,
porque a sabedoria do espírito elimina todos os conflitos.
Os habitantes dos mundos felizes, iluminados pelas verdades
eternas, com a aquisição dos poderes da inteligência e do coração, não têm mais
necessidade desses terríveis estímulos para despertar e cultivar os
recursos ocultos da alma.
Na grande escalada do progresso, as causas do sofrimento
atenuam-se à medida que o espírito progride, porque se tornam cada
vez menos necessárias para uma ascensão que se realiza livremente, na paz e na
luz.
A grande escola das criaturas e dos povos é o sofrimento.
Quando eles se afastam do caminho recto e descambam para a sensualidade e para
a decomposição moral, a dor, com o seu aguilhão, recoloca-os no
verdadeiro caminho.
É necessário que o homem sofra para desenvolver a sensibilidade
e a vida, sendo esta uma lei grave, séria e de proveitosas consequências.
É preciso sofrer para sentir e amar, crescer e elevar-se. Só
o sofrimento domina os furores da paixão, desperta em nós as meditações
profundas e revela às almas o que há de melhor, mais belo e mais nobre no
Universo: a piedade, a caridade e a bondade!
Do seu banho de sangue e de lágrimas, a França sairá
rejuvenescida e mais bela, irradiando eterna glória, para prosseguir a missão
que a sua História lhe impõe.
/…
LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, III –
As Lições da Guerra 3 de 3, 8º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Tanque de guerra
britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra
Mundial)
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