Alma humana…
A evolução dos mundos e das almas é regida pela vontade divina,
que penetra e dirige toda a Natureza, mas a evolução física é uma simples
preparação para a evolução psíquica e a ascensão das almas prossegue muito além
da cadeia dos mundos materiais.
O que impera nas baixas regiões da vida é a luta ardente, o
combate sem tréguas de todos contra todos, a guerra perpétua em que cada ser
faz esforço para conquistar um lugar ao Sol, quase sempre em detrimento dos
outros. Essa peleja furiosa arrasta e dizima todos os seres inferiores nos seus
turbilhões.
O nosso Globo é como uma arena onde se travam batalhas
incessantes. (*)
A Natureza renova continuamente esses exércitos de
combatentes. Na sua prodigiosa fecundidade, gera novos seres; mas logo a morte
ceifa nas suas fileiras cerradas. Essa luta, horrenda à primeira vista, é
necessária para o desenvolvimento do princípio da vida, dura até ao dia em que
um raio de inteligência vem iluminar as consciências adormecidas. É na luta que
a vontade se apura e afirma; é da dor que nasce a sensibilidade.
A evolução material, a destruição dos organismos é
temporária; representa a fase primária da epopeia da vida. As realidades
imperecíveis estão no Espírito; só ele sobrevive a esses conflitos. Todos esses
invólucros efémeros não são mais do que vestuários que vêm ajustar-se à sua
forma fluídica permanente. Cobre-os com vestuários para representar os
numerosos actos do drama da evolução no vasto palco do universo.
Emergir grau a grau do abismo da vida para tornar-se
Espírito, génio superior, e isto pelos seus próprios méritos e esforços,
conquistar o futuro hora a hora, ir-se libertando dia a dia um pouco mais da
ganga das paixões, libertar-se das sugestões do egoísmo, da preguiça, do
desânimo, resgatar-se pouco a pouco das suas fraquezas, da sua ignorância,
ajudando os seus semelhantes a se resgatarem por sua vez, arrastando todo o
meio humano para um estado superior, tal é o papel distribuído a cada alma.
Para desempenhá-lo, tem ela à sua disposição toda a série de existências
inumeráveis na escala magnífica dos mundos.
Tudo o que vem da matéria é instável; tudo passa, tudo foge.
Os montes se vão pouco a pouco abatendo sob a acção dos elementos; as maiores
cidades convertem-se em ruínas, os astros acendem-se, resplandecem, depois
apagam-se e morrem; só a alma imperecível paira na duração eterna.
O círculo das coisas terrestres aperta-nos e limita as
nossas percepções; mas quando o pensamento se separa das formas
mutáveis e abarca a extensão dos tempos, vê o passado e o futuro se
juntarem, fremirem e viverem o presente. O canto de glória, o hino da vida
infinita enche os espaços, sobe do âmago das ruínas e dos túmulos. Sobre os
destroços das civilizações extintas rebentam florescências novas. Efectua-se a
união entre as duas humanidades, visível e invisível, entre aqueles que povoam
a Terra e os que percorrem o espaço. As suas vozes chamam, respondem umas às
outras, e esses rumores, esses murmúrios, vagos e confusos ainda para muitos,
tornam-se para nós a mensagem, a palavra vibrante que afirma a comunhão de amor
universal.
/...
(*) Ver Le Dantec - La Lutte Universelle, I
vol., 1906.
LÉON DENIS, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, IX –
Evolução e finalidade da alma, fragmento.
(imagem de contextualização: Head of Divine
Vengeance, pintura de Pierre-Paul Prud'hon)
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