Prefácio |
(por Deolindo Amorim)
O título desta obra sugere, a princípio, que a mesma trata de trabalho, como
tantos outros, recebido do além; entretanto o que se encontra em Literatura
de Além-túmulo é um estudo, bem documentado, acerca da produção
literária que, através de inúmeros médiuns, nos tem chegado do
mundo espiritual.
Formulado sob a autoridade de um nome mundial, Ernesto Bozzano, este
livro não se destina exclusivamente aos espíritas, porque a forte e abundante
argumentação, que nele se condensa, pode enfrentar objecções de qualquer
natureza, pois é uma obra que não teme a dialéctica nem o sofisma académico.
Sabe-se muito bem que, em matéria de comunicações do além,
há muita coisa que deve ser rejeitada, mas também se sabe que na literatura mediúnica se registam
factos suficientemente comprovados.
Ernesto
Bozzano, homem de ciência, pesquisador frio e severo, é o primeiro a
reconhecer que muitos ditados psicográficos não suportam crítica, nem mesmo
superficial. O acatado mestre europeu entra no assunto com espírito de análise.
Faz confrontos, apresenta factos, tira conclusões seguras e, por fim, sustenta
a tese espírita com absoluta convicção à luz de documentação convincente. Não é
por uma comunicação duvidosa que se julga todo o volumoso património da literatura
mediúnica. Bozzano demonstra, logo de início, que há comunicações que realmente
não passam de elaboração onírico-subconsciente, com personalizações sonambúlicas,
diz ele, evidentemente grosseiras, mas é preciso que se saiba distinguir tais
comunicações das importantes mensagens ou páginas literárias em que o médium
não tem a menor participação intelectual.
Muitos adversários do Espiritismo, sempre que se
fala em comunicações do “outro mundo”, apelam para a hipótese do subconsciente.
Fizeram do subconsciente uma porta de saída para todas as situações. Ernesto
Bozzano cita, no entanto, casos em que de maneira alguma se poderia invocar a
possibilidade de haver um médium armazenado no subconsciente certos
conhecimentos revelados inesperadamente.
Entre vários exemplos, para provar que a literatura do além
é real, autêntica, incontestável, o autor introduziu no livro um facto
curiosíssimo: uma senhora, que era médium, recebeu, em transe mediúnico, uma obra
intitulada Evangelho suplementar. Nesse Evangelho, ditado na
presença de pessoas de responsabilidade, inclusive o rev. John Lamond, há
conhecimentos de história religiosa, de línguas antigas, etc., e a médium não
tinha cultura de tais assuntos, segundo apurou o próprio rev. Lamond.
Outro facto de que se ocupa, munido de documentos, é o do
célebre romance A Cabana do Pai Tomás. Muita gente sabe que esse
romance, aliás de fundo social, chegou a ser filmado e esteve durante muito
tempo em cartaz nos nossos cinemas. Admitiu-se, depois, a possibilidade de
haver sido essa obra, de tão grande influência na vida norte-americana,
transmitida mediunicamente à sra. Harriet Beecher-Stowe.
Lê-se em Literatura de Além-túmulo o trecho em que a escritora
Beecher-Stowe confessa francamente: “Não fui eu quem a escreveu”, isto é, A
Cabana do Pai Tomás. E acrescenta: “Deus a escreveu. Foi ele quem ma
ditou”. Diante dessa afirmativa, Ernesto Bozzano inclina-se
para a hipótese mediúnica.
É um livro, portanto, de observações, factos e crítica.
Aqueles que tiverem ocasião de ler Literatura de Além-túmulo, ainda
que não entendam de Espiritismo,
ficarão seguramente orientados para entrar no campo da produção mediúnica.
É, finalmente, um livro que deve figurar em toda estante de
obras espíritas.
/...
Ernesto Bozzano (i), Literatura de Além-túmulo, Prefácio por
Deolindo Amorim (i), 1º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Les Fleurs du Lac_1900,
tempera no painel de Edgard Maxence)
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