Parte II
Arte: meio de elevação e renovação; Arte: meio de
aviltamento; O pensamento de Deus; Fonte das altas e sãs inspirações ~
|Fevereiro de 1922|
A arte, sob as suas formas diversas, como dissemos no artigo
anterior, é a expressão da beleza eterna, uma manifestação da
poderosa harmonia que rege o Universo; é o raio de luz que vem do alto e que
dissipa as brumas, as obscuridades da matéria, e nos faz entrever os planos da
vida superior. A arte é,
por si mesma, plena de ensinamentos, de revelações, de luz. Ela arrasta a
alma em direcção às regiões da vida espiritual, que é a verdadeira vida, e que
a alma anseia tornar a encontrar um dia.
A arte bem compreendida é um poderoso meio de
elevação e de renovação. É a fonte dos mais puros prazeres da
alma; ela embeleza a vida, sustenta e consola na
provação e traça para o espírito, antecipadamente, as rotas para o
céu. Quando a arte é sustentada, inspirada por uma fé sincera,
por um nobre ideal, é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio
incomparável de civilização e de aperfeiçoamento.
Porém, nos nossos dias, muito frequentemente ela é aviltada,
desviada do seu objectivo, escravizada por mesquinhas teorias de escola e,
principalmente, considerada como um meio de chegar à fortuna, às honras
terrestres. Emprega-se a arte para adular as más paixões,
para superexcitar os sentidos, e assim se faz da arte um meio
de aviltamento.
Quase todos aqueles que receberam a sagrada missão de
conduzir as almas para o alto se eximiram dessa tarefa. Eles
se tornaram culpados de um crime, recusando-se a instruir e a esclarecer as
sociedades, perpetuando a desordem moral e todos os males que se precipitam
sobre a humanidade. Esse comportamento explica a decadência da
arte na nossa época e a ausência de obras importantes.
O pensamento de Deus é a fonte das altas e
sãs inspirações. Se os nossos artistas soubessem beber nessa fonte, nela
encontrariam o segredo das obras imperecíveis e as maiores
felicidades. O Espiritismo vem
oferecer-lhes os recursos espirituais de que a nossa época tem necessidade para
se regenerar. Ele nos faz compreender que a vida, na sua plenitude, é apenas a
concepção e a realização da beleza eterna.
Viver é sempre subir, sempre crescer, sempre acrescentar
em si o sentimento e a noção do belo.
As grandes obras só se elaboram no recolhimento e
no silêncio, à custa de longas meditações e de uma comunhão mais ou menos
consciente com o mundo superior. O alarido das cidades não é conveniente ao voo
do pensamento; ao contrário, a calma da natureza, a paz profunda das montanhas,
facilitam a inspiração e favorecem a eclosão do talento.
Assim, confirma-se, uma vez mais, o provérbio árabe: “O barulho é para os
homens, o silêncio é para Deus!”
O espírita sabe que imensa ajuda a comunhão com o Além, com
os espíritos celestes, oferece ao artista, ao escritor, ao poeta. Quase
todas as grandes obras tiveram colaboradores invisíveis. Essa associação se
fortifica e se acentua pela fé e pela prece, que
permitem às forças do Alto penetrarem mais profundamente em nós e impregnarem
todo o nosso ser. Mais do que qualquer outro, o espírita sente as correntes
poderosas que passam sobre as frontes pensativas e inspiram as ideias, as
formas, as harmonias, que são como os materiais dos quais o génio se utilizará
para edificar a sua maravilhosa obra.
A consciência dessa colaboração dá a medida da nossa
fraqueza; ela nos faz compreender qual parte cabe à influência de
nossos irmãos mais velhos, dos nossos guias espirituais, daqueles que, do
espaço, se inclinam sobre nós e nos assistem nos nossos trabalhos. Ela nos
ensina a ficar humildes no sucesso. O orgulho do
homem é que fez a fonte das altas inspirações secar. A vaidade, que
é o defeito de muitos artistas, torna o seu espírito insensível e afasta as
grandes almas que concordariam protegê-los. O orgulho forma uma espécie de
barreira entre nós e as forças do Além.
O artista espírita conhece a sua própria indigência, mas
sabe que acima dele, abre-se um mundo sem limites, pleno de riquezas, de
tesouros incalculáveis, perto dos quais todos os recursos da Terra não são mais
que pobreza e miséria. O espírita também sabe que esse mundo invisível – se ele
souber tornar-se digno dele, purificando o seu pensamento e o seu coração –
pode tornar mais intensa a acção do Alto, fazê-lo participar das
suas riquezas pela inspiração e pela revelação e delas impregnar as obras que
serão como um reflexo da vida superior e da glória divina.
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte
II – Arte: meio de elevação e renovação; Arte: meio de aviltamento; O
pensamento de Deus; Fonte das altas e sãs inspirações. 6º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Mona Lisa 1503-1507
– Louvre, pintura de Leonardo da Vinci)
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