(das forças ideoplásticas)
Está terminada a parte demonstrativa desta obra.
Resta-me falar das grandes transformações que devem dar-se,
necessariamente, nos domínios das ciências biológicas, fisiológicas,
psicológicas e filosóficas, graças ao novo conceito relativo à natureza do
espírito humano, conceito esse absolutamente revolucionário, que os factos
impõem.
Neste sentido, assim se exprime o Doutor Gustave Geley:
“Que quer dizer o vocábulo ideoplastia? Quer
dizer moldagem da matéria viva, feita pela ideia.
A noção da ideoplastia, imposta pelos factos, é capital.
A ideia não é mais um atributo, um produto da matéria. Ao
contrário, ela, a ideia, é que modela a matéria e lhe confere a forma e os seus
atributos.
Noutros termos, a matéria, a substância única resolve-se, em
última análise, num dinamismo superior que a condiciona, estando esse dinamismo
também na dependência da ideia.
Ora, isso é o soçobro total da fisiologia
materialista.
Disse-o Camille Flammarion, no seu livro admirável As
forças naturais desconhecidas, que estas manifestações “confirmam o que, ao
demais, sabemos, isto é, que a explicação puramente mecânica da Natureza é
insuficiente e existe no Universo alguma outra coisa, além da pretensa
matéria. Não é a matéria que rege o mundo, mas um elemento dinâmico e
psíquico.”
Sim, as materializações ideoplásticas demonstram que o ser
vivo não pode considerar-se um simples complexo celular.
Ele, o ser vivo, aparece-nos, antes de tudo, como um dínamo-psiquismo e
o complexo celular que lhe forma o corpo não é mais que um retracto
ideoplástico desse dínamo-psiquismo.
Assim, as formas materializadas, nas sessões, se beneficiam
do mesmo processo de geração.
Não são mais nem menos miraculosas, nem supranormais, ou, se
o preferem, são-no igualmente.
É o mesmo milagre ideoplástico que forma, a expensas do
corpo materno, mãos, rosto, vísceras, todos os tecidos, o feto integral; como a
expensas do corpo do médium se formam rostos, mãos, ou todo o organismo de
uma materialização.
Esta singular analogia, entre a fisiologia normal e a dita
supranormal, encontra-se até nos mínimos detalhes.
Um dos principais é este: – a ligação do ectoplasma ao
médium por um laço nutritivo, verdadeiro cordão umbilical, comparável ao que
liga o embrião ao organismo materno.” (Do Inconsciente ao Consciente,
págs. 69-70).
Depois de haver evidenciado as grandiosas consequências
biológicas, fisiológicas e psicológicas que a nova teoria sobre a potência
criadora da ideia acarretará, julga-se o doutor Gustave Geley no
dever de completá-la, notando que a faculdade ideoplástica, inerente à ideia,
não representa mais que simples unidade entre as múltiplas faculdades
supranormais, que constituem os atributos espirituais do Eu integral,
sobrevivente. Diz ele:
“Certo é, pois, que o organismo, longe de ser o organizador
da ideia, tal como ensina a teoria materialista, é, muito ao contrário,
condicionado pela ideia e, só aparece como produto ideoplástico do que existe
de essencial no ser, ou seja, o seu psiquismo subconsciente.
Mas, isto ainda não é tudo.
Esse subconsciente que em si tem as capacidades directoras e
centralizadoras do Eu em todas as suas representações, tem
também o poder de se elevar acima dessas mesmas representações.
As faculdades telepáticas de acção mento-mental ou de lucidez, são
representações que escapam precisamente das condições dinâmicas ou materiais
que as regem.
O subconsciente paira mesmo acima do quadro das
representações, isto é, do tempo e do espaço, na intuição, na genialidade, na
clarividência.
Assim, a tese sustentada por Carl
du Prel nas suas obras de admirável intuição; que Frederic Myers baseou em sólida documentação e
nós próprios fazemos sobre um raciocínio não contestado, oferece-se agora, em
toda a sua amplitude, ao exame e discussão dos sábios e pensadores de boa fé.
Sem reserva, pode afirmar-se:
– Há no ser vivo um dinamismo psíquico que constitui
a essência do “Eu” e, que se não pode ligar ao funcionamento dos centros
nervosos.
Esse dínamo-psiquismo essencial não é condicionado pelo
organismo, mas, muito pelo contrário, tudo se passa como se organismo e
funcionamento cerebral fossem por ele condicionados.” (Idem, págs.
142-143).
Esta nova definição científica do Ser vivente decorre
irrefutável e segura, deste grande acontecimento: o de haver sido demonstrada
pelos factos.
É a definição pela qual o Pensamento e
a Vontade são forças plásticas e organizadoras.
E tão grande é o valor teórico dessa demonstração, que
abre uma nova época científica, por desmoronar totalmente, antes de tudo, as imponentes,
mas fictícias construções laboriosamente estabelecidas por numerosos grupos de
investigações pertencentes a todos os ramos científicos, decalcadas no
postulado da omnipotência da matéria, quando, na verdade, deverá o
templo alicerçar-se no postulado diametralmente contrário, da omnipotência
do espírito.
Advertirei, todavia, que a demolição do velho edifício
científico não significa, de qualquer modo, que os representantes do saber
tenham trabalhado em vão por todo um século.
Longe disso, o novo templo do saber há de ser reconstruído
com os materiais preciosos retirados da demolição do templo velho.
Esses materiais eram bons, mas o fundamento estava mal
colocado, uma vez que assente sobre as areias enganadoras das aparências
fenoménicas, de mistura a prejuízos de escola e, por isso mesmo, fatalmente
destinados a esboroarem-se, logo que a realidade, oculta sob as
aparências, emergisse de uma análise mais profunda dos fenómenos vitais.
/…
Ernesto Bozzano, Pensamento e Vontade – Conclusões (1
de 4), 12º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: A Female Saint_1941,
pintura de Edgard Maxence)