(Numerados para referência)
1) – Que a actividade mental não é limitada às
suas manifestações corporais, se bem que, em certo meio material, seja
necessária para nos demonstrar a sua actual actividade neste plano.
2) – Que o mecanismo cérebro neuromuscular, assim
como o resto do corpo, formam um instrumento construído, dirigido e utilizado
pela vida e pelo espírito, instrumento que pode deteriorar-se ou usar-se de
modo a impedir a sua utilização regular pela entidade dirigente normal; que os
sinais dessa deterioração ou desse deslocamento podem claramente mostrar-se sem
nos dar o direito de daí tirar outra conclusão que a de uma obstrução ou de uma
imperfeição no canal ou laço de comunicação entre o espírito e a matéria.
3) – Que nem a vida nem o espírito deixam de
existir quando são separados do seu invólucro ou órgão material: cessam somente
de funcionar na esfera material anterior, como quando o instrumento estava em
bom estado. De facto, nada deixa de existir; só a forma de vida é que muda.
Certa coisa pode perfeitamente desaparecer diante dos nossos olhos, tornar-se
imperceptível aos nossos sentidos, mas isso não é uma prova de que tenha
deixado de existir. Esse facto, bem evidente quando se trata de matéria e de
energia, é igualmente verdadeiro, na minha opinião, quando se trata da
existência vital ou espiritual. Não temos razão alguma para supor que algo de
real possa deixar de existir, ainda que facilmente disperso ou tornado
inacessível aos nossos sentidos.
4) – Que o que chamamos “indivíduo” é uma encarnação definida
ou associação com a matéria de algum elemento vital ou espiritual que possui em
si mesma uma existência contínua. A entidade, ou, nos seus desenvolvimentos
superiores, a personalidade, não depende certamente da identidade das
partículas materiais que a fazem manifestar-se; ela não pode ser senão um
atributo da entidade dirigente que congrega tais partículas durante certo
tempo, as deixa e as renova durante a sua vida ordinária, sem que a sua
continuidade seja de qualquer forma alterada.
5) – Que o valor da encarnação se encontra na
oportunidade assim oferecida para a individualização de uma parte da
mentalidade específica gradualmente mais vasta, isolada do seu meio primitivo
cósmico, a fim de lhe permitir desenvolver uma personalidade que será a
característica desse organismo particular.
6) – Que, quando tal individualidade ou
personalidade é real, há lugar para acreditar-se que ela persista como toda
outra realidade e que, em consequência, pode sobreviver à sua separação do
organismo material, que a ajudava outrora a isolar-se, para se tornarem
possíveis os traços característicos individuais do seu carácter. Que o carácter
individual, assim formado, persiste verdadeiramente como indivíduo, conservando
a sua memória, as suas experiências e as suas afeições, segundo oportunidades e
privilégios associados ao corpo material, durante a vida terrena. É uma questão
que será resolvida pela observação directa e pela experiência.
Eis, pois, a minha conclusão final:
7) – Que a evidência, já acessível, nos basta para
provar que o carácter individual e a memória persistem, que as personalidades
que deixaram esta vida continuam a existir com os seus conhecimentos e as
experiências adquiridas neste plano e que, em certas condições parcialmente
conhecidas, os nossos amigos invisíveis podem provar-nos a sua sobrevivência
real, individual e pessoal.
Posição actual destas teses
No momento em que escrevo, todas estas conclusões ou
deduções, provenientes de um longo inquérito, são consideradas duvidosas pela
ciência ortodoxa, que, até aqui, se tem limitado a manifestações terrestres,
sem pesquisar o que quer que seja no plano espiritual.
Qualquer insistência sobre tais proposições choca com a
zombaria que as encara como pura especulação ou mesmo como superstição. Essas
conclusões, por outro lado, não parecem essenciais à religião, na sua aceitação
geral e, são, na maioria, desaprovadas como ensino religioso. Pode, portanto,
perguntar-se porquê, como tantos outros, fomos de tal forma tocados pela
verdade e a importância vital desta doutrina, que não nos importamos de
acarretar com todas as censuras e zombarias que nos possam lançar os seus adversários
e, por que considero um dever a defesa de tais teses, que merecem respeitosa
consideração e, que se aperfeiçoam na medida do progresso da nossa experiência
e do nosso conhecimento.
Tal a pergunta a que desejo responder brevemente nesta obra,
tanto quanto possível. Uma resposta completa exigirá o estudo dos factos
registados na respectiva literatura pelo menos de meio século ou de mais ainda,
estando a literatura antiga cheia de factos idênticos, alguns insuficientes e
pouco científicos, que são as suas narrativas.
A evidência dos factos aumenta dia a dia e aumentará mais
rapidamente ainda quando o grupo da crítica desdenhosa tiver desaparecido e a
pobre humanidade terrena ficar livre do jugo da opressão militante.
/…
Oliver Lodge, Por que creio na imortalidade da Alma, Capítulo
I Resumo de postulados ou conclusões tirados da experiência / Posição
actual destas teses, 3º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Luz e Cor (Teoria de
Goethe) A manhã após o Dilúvio, Moisés escreve o livro Génese (1843),
pintura de WilliamTurner)