O mundo espiritual e os fluidos; O mundo espiritual (*)
“O fluido cósmico universal, como foi ensinado, é a
matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a
inumerável variedade dos corpos da Natureza. Como elementar princípio
universal, ele se apresenta em dois estados distintos: o de eterização ou
imponderabilidade, que se pode considerar o estado normal primitivo e, o de
materialização ou de ponderabilidade, que, de certo modo, é apenas consecutivo
àquele. O ponto intermediário é o da transformação do fluido em matéria
tangível; mas, ainda aí não há transição brusca, pois que os nossos
fluidos imponderáveis podem considerar-se um termo médio entre os dois estados.
No estado de eterização, o fluido cósmico não é
uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas,
em género, senão mais numerosas quanto no estado de matéria tangível.
Essas modificações constituem fluidos distintos que,
embora procedendo do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais e
dão lugar aos fenómenos particulares do mundo invisível.
Sendo tudo relativo, esses fluidos têm para os
Espíritos uma aparência tão material, como a dos objectos tangíveis para os
encarnados e são para eles o que são para nós as substâncias do mundo
terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzir determinados
efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, se bem que por
processos diferentes.
Lá, entretanto, como neste mundo, só aos Espíritos mais
esclarecidos é dado compreender o papel dos elementos constitutivos do mundo
deles. Os ignorantes do mundo invisível são tão incapazes de explicar os
fenómenos que observam e para os quais concorrem, muitas vezes maquinalmente,
como o são os ignorantes da Terra para explicar os efeitos da luz ou da
electricidade e para dizer como os vêem e entendem.”
É admiravelmente justo o que se acaba de ler. Interroga ao
acaso dez pessoas que passem na rua, perguntando-lhes quais são as operações
sucessivas da digestão ou da respiração e fica certo de que nove delas não saberão
responder-te. No entanto, na nossa época, a instrução já se encontra bastante
disseminada. Mas, quão poucos se dão ao trabalho de aprender ou de reflectir!
“Os elementos fluídicos do mundo espiritual fogem aos
nossos instrumentos de análise e à percepção dos nossos sentidos, feitos que
estes são para a matéria tangível e não para a etérea. Alguns há
peculiares a um meio tão diferente do nosso, que não podemos fazer deles ideia,
senão mediante comparações tão imperfeitas como aquelas pelas quais um cego de
nascença procura fazer ideia da teoria das cores.
Mas, de entre esses fluidos, alguns se encontram
intimamente ligados à vida corpórea e pertencem de certo modo ao meio
terrestre. Em falta de percepção directa, podem observar-se-lhes os
efeitos e adquirir, sobre a natureza deles, conhecimentos de certa exactidão. É
essencial esse estudo, porquanto constitui a chave de uma multidão de
fenómenos que só com as leis da matéria não se explicam.
No seu ponto de partida, o fluido universal se encontra em
grau de pureza absoluta, da qual nada nos pode dar ideia. O ponto
oposto é o da sua transformação em matéria tangível. Entre esses dois
extremos, há inúmeras transformações, mais ou menos aproximadas de um ou de
outro. Os fluidos mais próximos da materialidade, os menos
puros consequentemente, compõem o que se poderia chamar a atmosfera
espiritual da Terra. É desse meio, no qual também diferentes graus de
pureza existem, que os Espíritos encarnados ou desencarnados extraem os
elementos necessários à economia de suas existências. Por muito subtis e
impalpáveis que sejam para nós, não deixam esses fluidos de ser de
natureza grosseira, comparativamente aos fluidos etéreos das regiões
superiores.
Não é rigorosamente exacta a qualificação de fluidos
espirituais, porquanto, em definitivo, eles são sempre matéria mais ou
menos quintessenciada. De realmente espiritual, há só a alma ou princípio
inteligente. Eles são qualificados de espirituais, em comparação e,
sobretudo, em razão da afinidade que guardam com os Espíritos. Pode
dizer-se que são a matéria do mundo espiritual. Daí o serem
denominados fluidos espirituais
Quem, ao demais, conhece a constituição íntima da matéria
tangível? Ela possivelmente só é compacta com relação aos nossos
sentidos. Prová-lo-ia a facilidade com que a atravessam os fluidos
espirituais (**) e os Espíritos, aos quais ela não opõe
obstáculo maior do que o que à luz oferecem os corpos transparentes.
Tendo por elemento primitivo o fluido cósmico etéreo, há
de a matéria tangível ter a possibilidade de voltar, desagregando-se, ao estado
de eterização, como o diamante, que é o mais duro dos corpos, pode
volatilizar-se em gás impalpável. A solidificação da matéria mais
não é, na realidade, do que um estado transitório do fluido universal, que
pode voltar ao seu estado primitivo, quando deixam de existir as condições de
coesão.
Quem sabe mesmo se, no estado de tangibilidade, a matéria
não é susceptível de adquirir uma espécie de eterização, que lhe dê
propriedades particulares? Certos fenómenos, que parecem autênticos, tenderiam
a fazê-lo supor. Ainda não possuímos senão as balizas do mundo invisível e
o futuro sem dúvida nos reserva o conhecimento de novas leis que permitirão se
conheça o que para nós continua a ser mistério.”
Vejamos agora, por meio das modernas descobertas, se são
exactas estas concepções.
/…
(*) Allan
Kardec, A Génese, cap. XIX, Os fluidos, nºs 2 e 3.
(**) E podemos hoje acrescentar: pelos raios X e pelas emanações
radioactivas. Quem ousaria duvidar da clarividência dos nossos guias
espirituais, desde que eles há longo tempo ensinam o que só agora a ciência
descobre?
Gabriel Delanne (i), A Alma é Imortal, Terceira parte, O Espiritismo e
a ciência; Capítulo III, O mundo espiritual e os fluidos; O
mundo espiritual, 10º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Pitágoras, pormenor
d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio (1509)